RMC - Fale-nos um pouco sobre a empresa. Como se definem e qual tem sido o vosso percurso?
JM - A Extrusal celebrou este ano o seu 50º aniversário. Corria o ano de 1972, quando Carlos Lourenço Bóia fundou a Extrusal, sediada em Aveiro. Começamos a laborar em 1974, quando o próprio fundador, no decorrer da construção da sua casa própria, detetou a falta de oferta de caixilharia em alumínio, um produto que “já era vulgar na Europa”.
A Extrusal é especializada, tal como o nome indica, na extrusão, maquinação e tratamento de superfície de perfis e peças em alumínio para o sector da indústria, e no desenvolvimento de sistemas em alumínio para a área da arquitectura. “A qualidade e inovação das nossas soluções, desenvolvidas por nós ou com os nossos clientes, o serviço de excelência e a nossa contínua preocupação ambiental são alguns dos elementos diferenciadores dos nossos produtos no mercado.
A Extrusal detém há já alguns anos várias certificações de qualidade e de ambiente, que tem vindo a renovar no decorrer dos anos. Ao longo dos 50 anos de existência, a Extrusal tem vindo a ser acreditada por entidades europeias. Em 1983, recebeu a certificação do tratamento de superfície Qualanod, e em 1995, do tratamento de superfície Qualicoat. Em 1997, a empresa foi a primeira empresa portuguesa a ser certificada na área de fabricação de matrizes, extrusão, anodização e termolacagem de perfis de alumínio. Pouco depois, em 2002, a Extrusal obteve a certificação do Sistema de Gestão Ambiental ISO 14001; em 2003, pela ISO 9001; em 2005, do tratamento de superfície com efeito madeira Qualideco; e em 2007, do tratamento de superfície Seaside.
Para além do mercado nacional, temos clientes distribuídos pelos três continentes: Europa, América e África. Exportamos 70% da nossa produção na área da indústria para a Europa e para a América, e 30% na área da arquitectura para a Europa e para a África. As exportações directas representam 27 % do volume de negócios. De referir que a Extrusal tem polos logísticos em Cabo Verde, Moçambique e Angola para responder com maior prontidão aos clientes locais. Em 2021 o volume de negócios foi de 49.9 M€, um aumento de cerca de 33%, fruto quer do aumento da matéria prima quer de um melhor mix de produtos vendidos. A arquitetura representa hoje 30% do volume de negócios, a Indústria automóvel 24% e a Indústria geral, os restantes 46%.
A evolução do mercado e dos clientes é um desafio constante e, simultaneamente, uma força motivadora para melhorarmos. Mudanças que nem sempre são fáceis, mas cabe-nos antever, sermos proativos e ajustar a nossa estratégia ao mercado. Uma empresa como a nossa, que já celebrou os seus 50 anos de existência, assistiu a mudanças drásticas do paradigma de consumo, de mentalidades e formas de estar, que trazem repercussões no método e organização do trabalho e no tipo de produto e serviço a apresentar ao mercado. Ao recuarmos até 1972, a rede dos transportes e comunicações eram realidades totalmente distintas das atuais, contudo a tentamos sempre evoluir, par a par, com essas mudanças, respondendo aos desafios que se foram colocando. Já passamos por vários desafios, entre eles, os grandes investimentos de 2006 a 2008, com vista a preparar o futuro e a entrada no sector automóvel, e a crise do “subprime” em 2008, que fez descer o valor da matéria-prima num montante idêntico à margem, a que se juntou a juntou a crise do sector bancário no país, em 2011 e nos anos seguintes.
Hoje, felizmente somos uma empresa sustentável no mercado e com perspetivas positivas apesar da conjunta atual. Uma situação que muito agradecemos aos nossos colaboradores, clientes e parceiros.
RMC - Quais as novidades em que a empresa está a apostar neste momento?
JM - Para o restante ano corrente e 2023 temos previstos o lançamento de várias novidades, quer ao nível dos processos, quer de serviços/produtos.
Relativamente ao processo produtivo, a indústria 4.0 tem sido um tema muito abordado internamente no sentido de melhorar processos produtos e performances, e na tomada de decisões mais rápidas e assertivas, de previsão e prevenção. Acreditamos que este é o presente e o futuro das empresas, e por isso temos desenvolvido algumas ações para delinearmos e implementarmos a nossa própria estratégia neste domínio.
Quanto aos serviços/produtos, temos algumas novidades no setor da Arquitetura, mas que divulgaremos no seu devido momento. Podemos adiantar que a sustentabilidade das habitações é o centro de qualquer desenvolvimento de produto, pelo que as novidades nesta área de negócio serão sempre favoráveis ao tema. Para a indústria em geral e automóvel, temos já definida uma estratégia que nos permitirá responder de forma ainda mais eficaz à crescente exigência técnica e especificidades de cada projeto.
RMC - As preocupações com a eficiência e a sustentabilidade estão de alguma forma a influenciar os produtos e a conduta da empresa?
JM - A sustentabilidade ambiental e a pagada ambiental da nossa atividade sempre nos acompanharam desde a nossa fundação. Reforçamos que, já em 1982, quando nem se falava nas questões ambientais, tínhamos implementado nas nossas instalações uma estação de tratamento de águas residuais e industriais (ETARI). Em 1997, a Extrusal implementou o SIGMA (Sistema Integrado de Gestão do Meio Ambiente) com base na norma ISO 14001, adaptando-se quando possível, os Procedimentos da Qualidade no sentido de integrar os requisitos dessa norma. A Extrusal deteve a certificação ambiental NP EN ISO 14001 em 2002.
A política de qualidade e ambiente da Extrusal assenta no compromisso de oferecer perfis de alumínio extrudidos (anodizados, lacados e maquinados), bem como os serviços associados, de qualidade, no interesse dos clientes, em respeito pelos colaboradores, investidores, estado, comunidade envolvente e meio ambiente. Esta política implica que todo o processo é gerido diariamente de forma a que haja uma articulação entre a gestão da qualidade e a gestão ambiental para um equilíbrio entre a performance económica e ambiental.
Posto isto, e atendendo que existe uma cultura empresarial verde, partilhada e defendida por todos, é natural que a eficiência e a sustentabilidade influenciam a conduta e os próprios produtos.
Podemos reforçar que há uma preocupação em conceber soluções que favoreçam a construção sustentável. As soluções que apresentamos para a Arquitetura/Construção são desenvolvidas com foco na obtenção das melhores performances energéticas para um consumo reduzido de energia. Por um lado, o isolamento térmico e acústico das nossas soluções para janelas e portas, e por outro, o conjunto de soluções de revestimento e sombreamento que permitem uma construção mais verde. Referimos que temos tido nos últimos anos a preocupação de introduzir acessórios sustentáveis e de desenvolver programas (Extrusal Certifica) que garantem a correta fabricação e montagem dos nossos sistemas, assegurando assim, a eficiência energética das nossas soluções.
Para o setor da indústria (genérica e automóvel), ainda que as nossas soluções não sejam elas, enquanto elemento isolado, eficientes energeticamente, o facto de resultarem de processos produtivos orientados por diretrizes sustentáveis, acabam também por responderem positivamente à sustentabilidade ambiental. Realçamos o facto de o alumínio ser um material infinitamente reciclável, sem nunca perder as suas propriedades iniciais, e que por si só é favorável à sustentabilidade. Além disso, a aplicabilidade crescente das nossas soluções, em produtos mais verdes (tais como carros elétricos, bicicletas, soluções para a energia solar, entre outras) devido às propriedades únicas do alumínio, está também alinhada com os nossos valores.
RMC - Quais são os principais desafios para a empresa no domínio da descarbonização?
JM - Os objetivos e metas traçadas por Portugal no sentido da descarbonização até 2030, no qual se compromete a reduzir a emissão dos gases com efeito de estufa entre 45 a 55 %, apresentam-se como grandes desafios para as empresas nacionais, inclusivamente para a Extrusal.
O plano de descarbonização passará sempre pelo recurso a energias renováveis no consumo bruto de energia final e pela eficiência energética. Temos políticas internas de inclusão de processos e tecnologia de baixo carbono, adotámos medidas internas de eficiência energética. Estamos a trabalhar para criar serviços mais eficientes energeticamente. O automatismo dos serviços e o controlo dos processos permitir-nos-ão de responder e intervir com maior prontidão.
RMC - Qual o posicionamento da empresa face à atual conjuntura internacional, com a crise energética desencadeada pelo conflito na Ucrânia?
JM - Esta crise está a ter repercussões muito graves no sector industrial. Estamos por um lado, com uma inflação de níveis nunca antes visto que condiciona muito os normais níveis de consumo, e por outro, debatemo-nos com a crise energética, uma ameaça à empresa, mas sobretudo a todo o sector.
Face a este enquadramento tempos adotado medidas para controlar os preços de compra e também os preços de venda dos nossos produtos. Sem dúvida que o conflito Ucraniano exigiu ainda mais rigor e metodologia em todo o processo produtivo, além disso a empresa foi obrigada a reequacionar toda política de investimentos que tem prevista.
RMC - De que forma estão a sentir o impacto da subida dos custos da energia?
JM - Sendo que, no ano passado e nos anos anteriores a energia representava cerca de 4 a 5 % do custo de produção da Extrusal (incluindo a matéria prima), com este agravamento do custo da energia, podemos afirmar que estes valores poderão atingir os 8% ou até mesmo ultrapassá-los.
O aumento do custo da energia tem implicações no preço final do produto que colocamos no mercado, é uma condicionante transversal a todo o mercado, como já referi este aumento galopante dos custos energéticos afeta muito o consumo.
RMC - Quais as vossas expectativas, em relação à empresa, ao mercado e à sua evolução?
JM - Estamos confiantes, confiança essa assente na dedicação e profissionalismo de todos os nossos profissionais, desde os gestores de topo até aos colaboradores do chão de fábrica. Confiantes e simultaneamente conscientes que temos muitos desafios pela frente. A conjuntura atual e o mercado que se apresenta cada vez mais exigente, levaram-nos a tomar medidas nesse sentido.
Reforço de alguns quadros com profissionais especializados em várias áreas, formação interna, reformulação processos, investimentos em maquinaria, a aposta nas potencialidades do digital (indústria 4.0), a pesquisa de novos mercados/reforçar a nossa presença nos internacionais onde já estamos e o aproveitar todas as oportunidades que o mercado nos dá são algumas das medidas implementas e das quais estamos já a recolher os frutos.
Acreditamos que estamos preparados para acompanhar as evoluções do mercado, ainda que cada vez mais, sejam imprevisíveis. O grande desafio é termos a empresa preparada para responder rapidamente às constantes alterações que se vão vivendo em todo o mundo global. E cada vez mais digital, sejam elas a nível de produtos ou de processos.