Por cá, a revolução dos cravos de 1974 é reconhecida como um grande marco para a notável transformação do País. Mesmo antes da revolução de 1974, mas principalmente depois dela, a modernização do país foi profunda e incrivelmente veloz. O rápido progresso no desenvolvimento social, na economia e nos níveis de democracia do país permitiram uma convergência com os padrões europeus numa grande variedade de áreas. Este progresso possibilitou (e simultaneamente foi impulsionado por) grandes alterações do papel tradicional da mulher e da condição feminina. Um dos fenómenos mais determinantes foi a entrada das mulheres em larga escala no mercado de trabalho. No entanto, e concomitantemente, são ainda muito poucas as mulheres que ocupam cargos de chefia nas empresas portuguesas. As mulheres representam menos de um terço dos cargos mais altos das empresas, apesar dos níveis mais altos de escolaridade.
No setor da construção, tecnologias de informação e comunicação, energia e ambiente, a presença de homens em cargos de gestão é maior, assumindo 82% da representatividade, deixando assim, uma pequena margem para mulheres desempenharem funções de liderança.
Mas há exceções à regra. A ocupação de cargos de gestão realizada maioritariamente por homens e a disparidades salariais não está presente em toda a organização.
Fundada em Aveiro, no ano de 1972, e pertencente ao setor metalúrgico, é natural que a maioria dos trabalhadores da Extrusal fossem inicialmente do sexo masculino. Ainda que o Grupo conte hoje com maior número de homens do que mulheres, as desigualdades salariais e distinção de sexos na ocupação de cargos de chefia nunca foi notória.
Em conversa com Graça Nunes, uma das colaboradoras com maior antiguidade no Grupo Extrusal e ainda no ativo, percebemos a perspetiva de quem acompanhou muitas mudanças. Mudanças estratégicas transversais a todo o Grupo Extrusal, das quais destacamos hoje a responsabilidade social. Com cerca de 36 anos na família Extrusal e sendo uma das caras do centro logístico do Porto, MS Alumínios, Graça Nunes, sempre acompanhada do seu sorriso e simpatia, conta-nos um pouco do seu percurso enquanto mulher numa empresa onde maioritariamente laboram homens.
Porquê a escolha da Extrusal, mais precisamente o centro logístico MS Alumínio?
Na verdade, o MS Alumínios surgiu no momento certo da minha vida. Encontrava-me a trabalhar numa conhecida empresa do ramo alimentar, sendo que o momento não era dos mais fáceis. Desejava mais estabilidade profissional. Quando surgiu a oportunidade de entrar para o Grupo Extrusal, para trabalhar no MS Alumínios, nem pensei duas vezes.
Ainda que os tempos fossem outros, era uma menina quando entrou. Era uma das primeiras mulheres a laborar na Extrusal. Sentiu isso enquanto responsabilidade extra?
Pelo facto de ter sido uma das primeiras mulheres a trabalhar no grupo Extrusal, nunca senti qualquer peso extra de responsabilidade. Nessa altura o único peso que senti foi o da responsabilidade de cumprir eficientemente as minhas tarefas profissionais de modo a não se arrependerem da aposta depositada em mim.
Em virtude de trabalhar num setor de atividade em que os profissionais são predominantemente do sexo masculino, sentiu ao longo dos anos um trato especial? Mais colaboração, apoio? Ou, contrariamente, sentiu uma certa discriminação dos seus colegas de trabalho?
Sempre tive um bom relacionamento no meu círculo profissional, quer fosse com os meus superiores, colegas ou clientes. Desse ponto de vista, não existe melhor trato especial do que o Respeito que sempre senti de todos. Não consigo apontar qualquer situação em que me tenha sentido mais constrangida ou até descriminada. Todas as situações, por mais difíceis que pudessem eventualmente serem, foram sempre de resolução simples.
Durante os 36 anos, teve de lidar com clientes do ramo da construção (instaladores, serralheiros, entre outros profissionais do setor da construção). Atendendo que este setor é ainda predominantemente composto por profissionais do sexo masculino, sentiu algum tipo de descriminação de géneros?
Não, nunca. Desde os meus primeiros dias no atendimento telefónico até ao dia presente, nunca senti qualquer discriminação por parte dos nossos clientes, muito pelo contrário, sempre senti respeito, apreço e grande simpatia. Algumas situações mais desafiadoras pelas quais passei nada estiveram relacionadas com a questão de ser mulher ou não. Nesse campo, sinto-me uma felizarda por não ter sentido na pele este tipo de descriminação.
Acompanhou de perto várias mudanças no Grupo Extrusal. Quais foram as mais significativas no campo da igualdade de direitos e oportunidades?
Ao longo dos meus 36 anos no centro logístico MS Alumínios, assisti ao grande crescimento do projeto empresarial da Extrusal. Nem tudo foi um mar de rosas, a evolução foi acontecendo com avanços e recuos, num registo do tipo “montanha russa”. Mas o importante é que hoje a nossa empresa está mais sólida, mais modernizada e mais competitiva. Relativamente à igualdade de direitos e oportunidades, posso dizer que nunca senti que houvessem diferenças. A verdade é que sim, o número de trabalhadores do sexo masculino sempre foi superior. Talvez se deva à área de negócio. Quanto a cargos de gestão, temos há já algum tempo muitas mulheres nestas funções, com uma elevada progressão da sua carreira profissional ao longo dos anos.
Sentiu que teve a mesma oportunidade de progressão na carreira comparativamente aos seus colegas do sexo masculino?
As minhas primeiras funções foram de escriturária. Ao longo do tempo fui adquirindo novas competências profissionais que me permitiram desempenhar novas funções e responsabilidades na área da contabilidade. A Extrusal sempre reconheceu a minha dedicação e acredito que a progressão na carreira, nesta minha realidade, se deva sim, unicamente aos resultados demonstrados. Ainda que a progressão na carreira profissional possa ser distinta por géneros em algumas organizações, essa nunca foi a minha realidade.
A entrada da Engª Cristina Boia para a Administração do Grupo Extrusal foi importante para a mudança de alguns paradigmas. Sente que nesta temática dos direitos das mulheres no mercado de trabalho, esta nova realidade foi importante?
Desengane-se quem acreditar que a chegada da Eng. Cristina Boia à Administração do Grupo Extrusal não está diretamente relacionada com a entrada de várias funcionárias mulheres para os quadros da nossa empresa. Não foi uma mera coincidência! Foi uma feliz decisão!
Quando começou a trabalhar no centro logístico MS Alumínios a Graça era a única mulher. Pouco tempo depois, foi inserida na equipa uma colega. Como sentiu essa vinda?
Apesar de não me ser uma situação nova, dado que ao longo destes 36 anos colaborei com várias colegas mulheres, é sempre reconfortante a presença de mais uma mulher na mesma sala. Apesar de ter tido sempre colegas de trabalho fantásticos, há alguns assuntos com os quais as mulheres têm outra cumplicidade. É bom poder partilhar ideias e experiências de coisas cujas pessoas tem a sensibilidade e interesses comuns. Não se trata de sexismo, mas é natural que alguns assuntos sejam mais sensíveis às mulheres e outros aos homens.
Ao fazer uma retrospetiva, sente que a Extrusal sempre teve elevada responsabilidade social, e que tentou sempre igualar e defender a igualdade de direitos e oportunidades?
Obviamente que a Extrusal sempre se assumiu no âmbito das responsabilidades sociais. Não consigo precisar se a Extrusal se posicionou num patamar acima da média do tecido empresarial nacional. O importante, para mim, é que na Extrusal houve capacidade para ajuizar que a entrada de mais mulheres para os seus quadros, resultaria numa mais-valia para a empresa e que seria um ato de justiça no campo da igualdade de direitos e oportunidades.
Nos últimos anos temos assistido à contratação de muitas mulheres no Grupo. Destaco inclusivamente que os dois centros de maquinação (Porto e Aveiro) possuem mais mulheres do que homens. Esta é uma das provas vivas que o Grupo Extrusal tem um elevado compromisso com a responsabilidade social. Acredito que não tarda e teremos outros setores onde serão incluídas colaboradoras do sexo feminino.
A Graça é esposa e mãe. Como conseguiu conciliar a sua vida profissional com a familiar?
Primeiro, devo dizer que ter sido Mãe foi uma das minhas maiores alegrias. Mas, é bem verdade que nos dias de hoje não é fácil de conciliar a condição de Mãe com a de Mulher-trabalhadora.
Na primeira infância dos nossos filhos, nós Mães temos que nos desmultiplicar em 1001 tarefas. É a gestão do tempo de amamentação, é a alimentação do bebé, são as idas periódicas ao pediatra, é o apoio necessário às repentinas infeções virais, são as inesperadas idas ao infantário, é a importante presença em reuniões escolares… é uma lista sem fim à vista.
No meu caso, desde a licença de maternidade até a entrada da minha filha para o ensino escolar, felizmente, consegui gerir bem todo esse longo e difícil processo. Sempre consegui gerir as minhas tarefas profissionais com o apoio que se exigia para com a saúde e educação da minha filha. Obviamente que contei com o precioso apoio do meu marido / família e também com a compreensão da Extrusal que sempre me facilitou nas situações inesperadas que foram surgindo.
No fundo o sucesso desta gestão passou por um bom planeamento familiar e profissional. Ninguém perdeu, todos ficámos a ganhar!
Que mensagem gostava de deixar a todas as suas colegas e reforçar na comemoração do Dia Internacional da Mulher?
Nunca deixem de lutar pelos vossos sonhos, projetos e muito menos pelos vossos direitos. Pessoalmente eu vejo a sociedade como um só todo, sem desigualdades de género, e por isso acho que as mulheres devem ter o foco na luta por um só direito. O direito à igualdade, pura e absoluta. Lutar pelos direitos das mulheres é lutar por uma sociedade equilibrada. Conseguem imaginar uma sociedade sem mulheres?! Não, pois não? Feliz Dia da Mulher. Por Graça Nunes, colaboradora da Extrusal há 36 anos.
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Celebrado desde 1975, por iniciativa da Organização das Nações Unidas, o Dia Internacional da Mulher assinala o dia, no ano de 1857, em que as operárias de uma fábrica de Nova Iorque, nos EUA, decidiram entrar em greve para reivindicar a redução da carga horária de trabalho, o direito à licença de maternidade e equiparação dos seus salários aos do sexo oposto. Cinquenta e um anos depois, a 8 de março de 1908, um outro grupo de trabalhadoras escolheu a mesma data para avançar para nova greve, homenageando assim as antecessoras – e reclamando o fim do trabalho infantil e o direito de voto.
Ainda que haja muito a fazer, vale a pena homenagear aquelas que lutaram e que deixaram o seu contributo na aquisição dos direitos e oportunidades consideradas banais por muitos.